Por Cristiano Alves

Alguns bairros em Feira de Santana ficam estigmatizados em virtude de características peculiares que podem ser positivas ou negativas. Muitas destas localidades, por estarem situadas na região periférica cidade passam a clara ideia de marginalidade, porém nem tudo é como parece ser. É o caso de um grupo de garotos do bairro Queimadinha que se organizaram e criaram o conjunto Feira City, que promete inovar no cenário musical com a criação de um novo estilo: o Pagorap, ou seja a mistura do Rap e as suas letras contundentes, com gingado e a suingueira do bom e velho pagode baiano. Oriundos do bairro, o vocalista e compositor Luiz Henrique, conhecido como Super Choque e seus amigos fundaram o grupo que vence preconceitos e busca se consolidar no cenário musical. 

A Queimadinha é um bairro considerado periférico embora esteja localizado uma região próxima do centro de Feira de Santana. Por conta da condição social e dos altos índices de violência, ao longo do tempo o bairro vem carregando este estigma negativo, porém através da música, os garotos do Feira City buscam mostrar outro lado da localidade, ainda pouco visto pela sociedade. Foi com este objetivo, que o grupo participou esta semana do Programa Segurança em Foco da Rádio Geral, apresentado pelo Instrutor Gilberto Ribeiro, para falar um pouco mais da ideia e do projeto que o conjunto se pautou a seguir. 

A ideia de formar a banda já vinha sendo trabalhada a três anos, segundo Super Choque. "Eu queria fazer uma coisa diferente porque como todos nós temos origem humilde ficava mais complicado ter uma notoriedade, Aí pensei 'por que não fazer uma mistura de ritmos e ao mesmo tempo falar da nossa realidade através da música?' Joguei a ideia para os amigos e aí começamos a trabalhar nela", explicou.

Super Choque diz que a Feira City é o resultado da mistura de muitas influências. "Eu desde novo sempre gostei de Rap dos Racionais, do Emicida por conta das letras fortes que mostravam a realidade de uma forma contundente e a minha linha de composição vai muito por este caminho porque a gente vem de uma comunidade carente, que precisa de um porta-voz para externar seus problemas, sua realidade. Como o pagode é um estilo de música marcante na Bahia, a gente uniu as duas coisas e o resultado foi esse", conta. 

Mesmo com a ideia lançada, o vocalista reconhece que demorou um pouco para chegar até a configuração e a formação atual da banda. "Não foi uma tarefa simples porque muitos amigos que integram hoje a Feira City tinham experiência de outras bandas e tiveram que assimilar a ideia primeiro, se adaptar para então começar a trabalhar o projeto. Imagina você reunir o Rap dos Racionais, do Emicida com as letras contundentes com o pagodão cantado por Edicity e Igor Kanário? Não foi um trabalho fácil, mas a vontade da gente mostrar nosso valor é maior e a cada dia estamos superando as dificuldades e nos preparando para levar a nossa música para a maior quantidade possível de pessoas não só em Feira de Santana, mas em diversos locais do mundo através das redes sociais", afirma. 

VENCENDO O PRECONCEITO

Super Choque revela que existe hoje ainda muito preconceito por se morar em determinado bairro, ou comunidade, como é o caso dele e dos demais componentes da banda oriundos do bairro Queimadinha. "Quando falamos que somos da Queimadinha, aí vem logo aquela pergunta sarcástica 'de qual facção vocês fazem parte?' Será que as pessoas quando falam no nosso bairro, só pensam em coisas ruins? Olha, lá tem muita coisa boa e é isso que nós queremos mostrar através da nossa música e além disso, queremos mostrar que existe diversidade cultural em cada canto dessa cidade que precisa ser valorizada", afirma. 

O cantor conta ainda que em virtude do preconceito, pessoalmente ele já chegou a ser agredido. "Fui com minha ex-namorada a um evento de Rap e lá quando falei que era da Queimadinha fui espancado por cerca de 20 jovens. Poderia ter me revoltado com isso, mas canalizei meus pensamentos para a música e daí veio o projeto, me juntei a outros jovens e agora estamos nessa caminhada", diz.

As composições próprias retratam temas do cotidiano como a realidade da periferia, o desemprego, bem como assuntos mais abrangentes como a Depressão, uma das doenças mais terríveis de todos os tempos. "Já contamos com 10 composições nossas onde fazemos esta mistura de ritmos, sem perder a essência da realidade que vivemos, ou seja, queremos levar a nossa mensagem por meio da música e mostrar o nosso valor a sociedade", declara Super Choque. 

O Feira City busca agora patrocínios, incentivos para poder futuramente registrar o trabalho através de shows e, quem sabe, a gravação de um CD ou mesmo DVD. Quem quiser conferir de perto o trabalho dos garotos da Queimadinha podem procurar #FeiraCity nas plataformas digitais.